quinta-feira, 14 de março de 2013

Antônio de Araújo - texto explicativo da obra



Antônio de Araújo. Autorretrato (detalhe invertido). Em processo. 2013.

 

homoerotismo – masculinidade, erotismo e transgressão


A obra trata diretamente de experiências da intimidade, trazendo à tona questões relativas ao prazer físico, quase sempre relacionadas à sexualidade, restringindo-se, especificamente, ao universo homoerótico. Nesse contexto, destacam-se dois objetos de investigação: os elementos formais que constituem a imagem erótica relacionada ao universo masculino e; a problemática que constitui a imagem homoerótica como objeto transgressor.
O trabalho explora o universo erótico relativo à masculinidade, propondo reconstruções da representação do corpo como objeto de culto e desejo. Assim, partindo dos ícones gregos clássicos referentes à harmonia visual, que indicam a materialização no objeto artístico dos atributos apolíneos de perfeição, são estruturadas composições figurativas com grande influência histórica. Isso pode ser observado através da contenção composicional no desenho, que prima pelo equilíbrio dos elementos no espaço bidimensional. Esses arranjos utilizam-se da figuração (de base realista) executada linearmente, criando relações dispersas, situadas num cenário sutilmente sugerido. Compondo essa estrutura, são mantidos fragmentos de construção linear da forma (linhas coadjuvantes para o entendimento do objeto representado), que visualmente remetem à abstração. Antagonicamente, esses vestígios preservados, por manterem uma lógica construtiva sinuosa, contribuem para fortalecer a totalidade erótica, através da sensualidade dos movimentos sugeridos (percursos arredondados e voluptuosos).
Pensando a experiência erótica como uma série complexa de ações, que compreendem dos comportamentos guiados pela afetividade até as situações muito próximas à agressividade, as formas de expressar o erotismo recorrem igualmente aos mais variados recursos.  Assim, pela amplitude desse universo e para abarcar minimamente seu entendimento, a noção de equilíbrio classicista é sempre subjetivada, criando, por vezes, grandes dualidades. A atração pelo discurso contraditório e inevitável nas representações da sexualidade, classicamente estetizada, desemboca na materialização de elementos barroquistas. Há então mergulhos na exaltação aos sentidos e prazeres físicos, nos excessos, no processo de sedução, na exploração do corpo como objeto erótico, na pornografia, na “violência” inerente ao ato sexual etc.
Socialmente, discursos que exploram a sexualidade causam estranhamento e desconforto na contemporaneidade, e as representações homoeróticas são ainda mais rechaçadas, por reforçarem uma orientação sexual marginalizada.  Inevitavelmente, todos os elementos que compõe o imaginário relacionado ao homoerotismo recebem o atributo de serem objetos transgressores. Admitindo essa particularidade, a produção artística explora essa carga provocativa, quando afastada de propósitos intimistas, numa exibição direta no ambiente público, investigando assim a própria relação obra/sociedade. Para tanto, o trabalho não se limita a determinados suportes e técnicas, sendo planejado, por vezes, através de uma visualidade gráfica que favorece uma leitura imediata. Afloram, de forma mais direta ou com uma grande dose de ironia, reflexões mais gerais sobre individualidade, sexualidade e comportamento não convencional.