Trecho
de entrevista concedida à revista MODO 18, de 04 de junho de 2008. Reporte:
Hermes Coimbra
MODO 18 -
Como você iniciou sua pesquisa nas artes plásticas?
ANTONIO DE
ARAUJO - Fui motivado a
me dedicar às artes visuais em 1994 quando, numa estada em Belo Horizonte,
conheci a obra de Fernando Cardoso. A primeira impressão que tive foi de estar
tendo contato com um diário visual - um registro muito sofisticado do universo
do artista. As questões propostas por Fernando eram ao mesmo tempo mínimas e cheias
de simbolismo. Fiquei muito impressionado. Antes meu entendimento sobre arte
era ligado exclusivamente à forma. E eu jamais havia pensado na possibilidade
de enxergar o conceito como algo capaz de comunicar uma visão de mundo ou um
comportamento. Eu possuía uma visão limitada da arte, mesmo tendo contato com
muitas obras contemporâneas. Em 1996 abandonei o curso de medicina e ingressei
na Escola de Belas Artes da UFMG.
M. 18 - Você sempre cita
Fernando Cardoso. Como a obra deste artista pode ser observada em seus
desenhos?
A. A - Sem escrúpulos digo
que até 1999/2000 meu trabalho pode ser uma interpretação da obra dele. Depois
incorporei vários outros nomes, mas de modo mais diluído. Muitos artistas
sentem-se incomodados em assumir certas influências. Orgulho-me muito das
minhas.
M. 18 - Quais outros nomes
citaria como influências para seu trabalho?
A. A - Acredito que um
trabalho sério de arte segue uma tradição lógica. Sei que esta afirmação pode
parecer extremamente conservadora, mas não é. Esta tradição não está somente
presente na elaboração de uma pesquisa individual, mas é identificada nas obras
de toda uma geração. Portanto sinto-me influenciado direta e indiretamente por
todos artistas e objetos de arte produzidos. Artistas que tive muito contato, tenho
muito carinho e sempre consultei para crítica do meu trabalho foram, entre
outros: Amílcar de Castro, Roberto Bethônico, Luiz Flávio Silva e Carin
Bergman.
M. 18 -
De certa forma, você diria que sua obra foi bastante influenciada por uma
geração da década de 90?
A. A -
Totalmente. Dos anos noventa podemos perceber claramente uma estética própria,
intimista e com referências de obras conhecidas. Houve uma tietagem em cima de grandes
artistas e uma imediata releitura da obra dos mesmos. Na verdade foi uma época
que escutávamos a palavra releitura em todos os diálogos sobre arte.
M. 18 - Alguns de seus últimos trabalhos tendem à negação do próprio valor da arte, enquanto trabalhos anteriores reafirmam este valor. Para quem acompanha sua carreira e conhece um pouco de sua vida pessoal, é inevitável não relacionar uma grande mudança após o acidente que você sofreu. Isso se justifica?
A. A -
O acidente que sofri foi decisivo para as mudanças que ocorreram no meu
trabalho. Apesar destas estas mudanças já estarem previstas bem antes, como
forma paralela ao desenho. A coleção que tive acesso em Dublin de arte oriental
fermentou em algumas escolhas que fiz hoje, e o acidente me proporcionou um
período de recesso, onde pude analisar melhor questões muito pertinentes ao meu
trabalho e atitudes frente às experiências que eu havia procurado antes não
enfrentar.
M. 18 - Muitas vezes seu trabalho foi exposto de forma pouco convencional. O tema homoerotico, representado de forma explícita, e inserido em espaços públicos, agora é mostrado de forma velada, mas ainda ocupando espaços inusitados. Qual a causa desta forma de exposição?
A. A - Não há um planejamento
para a forma de apresentação do trabalho. Por mais que as imagens tendam para
uma apresentação mais intimista, busco também uma interação com o espaço.
Mantenho uma constante vigilância para que a obra não fique vinculada a uma
determinada visualidade. O trabalho não pode ficar preso, ou talvez possa, mas
eu evito que isto aconteça. Esta
proposta em querer surpreender, hoje, já está ficando mal vista, mas esse
processo é feito exclusivamente para mim.