sábado, 24 de setembro de 2011

O homoerotismo de Antônio de Araújo


O Tempo/Magazine, p.4. Belo Horizonte, 21 de junho de 2003.

Artista plástico mostra na exposição “Este”, em cartaz no Sessiminas, as várias fases do seu trabalho sobre o tema

Daniel Barbosa

Em cartaz desde o último dia 10 na galeria de Arte do Sesiminas, a exposição “Este”, do artista plástico Antônio de Araújo, mostra a evolução do seu trabalho nos últimos quatro anos, período em que explorou diferentes suportes e técnicas, mas sempre fiel à temática homoerótica. “Este” reúne 12 obras agrupadas em cinco módulos e contempla tanto os desenhos mais antigos, explícitos e figurativos, quanto a produção recente, em que o artista explora novos materiais e a tridimensionalidade, com resultados mais próximos do impressionismo.
“Comecei pesquisando o desenho homoerótico há quatro anos e agora estou incorporando materiais que dão algum relevo às obras, como metal, vidro, tecido, prata e sangue. O que antes era desenho começa a ter algo de objeto, de escultórico. Até pela incorporação desses novos materiais, a temática do homoerotismo surge de maneira mais simbólica”, diz. Ele ressalta que a mostra em cartaz na Galeria do Sessiminas ainda guarda alguns desenhos tradicionais, em grafite sobre papel.
“Quis que esse material mais antigo entrasse também para que o público perceba o caminho que venho percorrendo nestes quatro anos”, diz. No que diz respeito à sua produção mais recente, Antônio sublinha que a intenção é elaborar a temática de forma a acentuar a sinestesia e as possibilidades expressivas para o diálogo erótico do espectador com a obra. Tal desejo norteou, também, a performance que ele fez na abertura da mostra, quando pendurou casulos de vidro no próprio corpo e extirpou alguns piercings que ostentava. “Quis mostrar que havia uma vida latente, que se relaciona com a questão homoerótica, naqueles casulos e no sangue que escorria quando arrancava os piercings”, diz.

Mostra segue para outras cidades

Formado pela Escola de Belas Artes da UFMG, com habilitação e pintura, Antônio de Araújo realiza com “Este” a sua primeira mostra individual. Ele considera que o processo evolutivo de seu trabalho – revelado nas obras que integram a mostra – se reflete na sua própria postura diante da vida. Araújo acredita que a temática e forma que expõe em seus desenhos e “quase-esculturas” também possam agir da mesma forma em relação ao público.
“Sempre o homoerotismo serviu como cerne temático dos desenhos, mas antes era mostrado de modo muito mais direto numa imagem figurativa. Agora, esse mesmo tipo de erotismo surge transfigurado em objetos e substâncias que podem não ter uma relação direta, mas , no conjunto, são repletas de interrogações simbólicas. Acho que essas provocações visuais estimulam não somente um desafio técnico para a construção de uma expressão satisfatória, mas também um reposicionamento autocrítico de posturas políticas”, diz.

Ele adianta que, finda a temporada na Galeria do Sessiminas, no próximo dia 29, as obras devem seguir para Ouro Preto e Mariana. “A ideia é levar ao máximo de lugares possíveis”, diz. (DB)