O Tempo/Magazine, p.4. Belo Horizonte, 21 de junho de 2003.
Artista plástico mostra
na exposição “Este”, em cartaz no Sessiminas, as várias fases do seu trabalho
sobre o tema
Daniel Barbosa
Em cartaz desde o último dia 10 na galeria de Arte do
Sesiminas, a exposição “Este”, do artista plástico Antônio de Araújo, mostra a
evolução do seu trabalho nos últimos quatro anos, período em que explorou
diferentes suportes e técnicas, mas sempre fiel à temática homoerótica. “Este”
reúne 12 obras agrupadas em cinco módulos e contempla tanto os desenhos mais
antigos, explícitos e figurativos, quanto a produção recente, em que o artista explora
novos materiais e a tridimensionalidade, com resultados mais próximos do
impressionismo.
“Comecei pesquisando o desenho homoerótico há quatro anos e
agora estou incorporando materiais que dão algum relevo às obras, como metal,
vidro, tecido, prata e sangue. O que antes era desenho começa a ter algo de
objeto, de escultórico. Até pela incorporação desses novos materiais, a
temática do homoerotismo surge de maneira mais simbólica”, diz. Ele ressalta
que a mostra em cartaz na Galeria do Sessiminas ainda guarda alguns desenhos tradicionais,
em grafite sobre papel.
“Quis que esse material mais antigo entrasse também para que
o público perceba o caminho que venho percorrendo nestes quatro anos”, diz. No
que diz respeito à sua produção mais recente, Antônio sublinha que a intenção é
elaborar a temática de forma a acentuar a sinestesia e as possibilidades
expressivas para o diálogo erótico do espectador com a obra. Tal desejo
norteou, também, a performance que ele fez na abertura da mostra, quando
pendurou casulos de vidro no próprio corpo e extirpou alguns piercings que
ostentava. “Quis mostrar que havia uma vida latente, que se relaciona com a
questão homoerótica, naqueles casulos e no sangue que escorria quando arrancava
os piercings”, diz.
Mostra segue para
outras cidades
Formado pela Escola de Belas Artes da UFMG, com habilitação
e pintura, Antônio de Araújo realiza com “Este” a sua primeira mostra
individual. Ele considera que o processo evolutivo de seu trabalho – revelado nas
obras que integram a mostra – se reflete na sua própria postura diante da vida.
Araújo acredita que a temática e forma que expõe em seus desenhos e “quase-esculturas”
também possam agir da mesma forma em relação ao público.
“Sempre o homoerotismo serviu como cerne temático dos
desenhos, mas antes era mostrado de modo muito mais direto numa imagem
figurativa. Agora, esse mesmo tipo de erotismo surge transfigurado em objetos e
substâncias que podem não ter uma relação direta, mas , no conjunto, são
repletas de interrogações simbólicas. Acho que essas provocações visuais
estimulam não somente um desafio técnico para a construção de uma expressão
satisfatória, mas também um reposicionamento autocrítico de posturas políticas”,
diz.
Ele adianta que, finda a temporada na Galeria do Sessiminas,
no próximo dia 29, as obras devem seguir para Ouro Preto e Mariana. “A ideia é
levar ao máximo de lugares possíveis”, diz. (DB)